apesar de se arrastar por mais de 6 meses a dita crise mundial só agora arrisco algumas linhas sobre economia, num sentido bem lato, até pelo meu conhecimento ser parco. Não vejo além das notícias publicadas em jornais e sites e da mídia televisiva e radiofônica, com alguma leitura que inclua questões econômicas contemporâneas e o dia-a-dia da advocacia em um escritório de direito empresarial.
Tenho percebido, desde as fontes acima e de conversas com empresários, as dificuldades de se manter uma empresa. Digo empresa no sentido amplo da palavra - pode ser uma transportadora, uma distribuidora de gêneros alimentícios, indústria de complexos produtos ferroviários, construção civil - para ficar em exemplos próximos de clientes com os quais trabalho.
E a partir daí pode passar uma das causas da crise.
A dificuldade que falo vai passar por todos os estágios de produção, da questão tributária, de compra de matéria prima, de processos de industrialização, da logística [transporte, distribuição e armazenamento de produtos], dos riscos da responsabilidade civil, de trabalhar com material humano - questões subjetivas de cada um dos empregados, com cargas de trabalho e serviços totalmente diversos até as questões trabalhistas - no Brasil, sabe-se, a Justiça do Trabalho é benévola em relação do mísero em detrimento dos empresários. Posição enfrentado por um Magistrado conhecido deste blogueiro, que carrega a máxima "se eu quebrar [desfalcar financeiramente por uma condenação trabalhista] a empresa, eu quebro o Brasil" - acho exagerada a posição, mas tenho que concordar parcialmente com ela - sem querer ser do muro, mas não nem escravidão, nem enriquecimentos ilícitos através da Justiça do Trabalho - não se pode deixar a exploração do empregador imperar, porém, há de se valorizar a pessoa que é empreendedora, que produz empregos - e aí volto ao tema do post.
Numa gama tão diversa de responsabilidades e dificuldades - da responsabilidade civil aos trâmites trabalhistas - porquê investir numa empresa tradicional ?
Pra que ficar sujeito a pagar indenizações milionárias; de estar à mercê da natureza [inundações/enchentes/secas]; de correr o risco de responder processo criminal/ser preso por conta de um não pagamento de tributos - que muitas vezes não foram pagos pois, se fossem, inviabilizariam o funcionamento da atividade e/ou o salário dos empregados ? Pra quê tudo isso?
Na minha opinião é o que passou pela cabeça de muita gente, principalmente a partir dos anos 1990. E esses empreendedores, reprimidos em sua vontade pelo medo das consequências de se abrir empresas "normais" - com produtos/serviços sede, faturamento, tributação e funcionários, num sentido moderno de atividade foram buscar em outra área de negócios seu rendimento.
Desde escritórios enxutos do ponto de vista espacial e de pessoal, com computadores e eles mesmo tocando a atividade foram especular na bolsa de valores, mercado imobiliário e outros meios de transformar os valores da economia real, em virtual, multiplicando ações de papéis, esses investidores estavam fazendo girar uma bola que era alimentada pelo dinheiro "de verdade", para posterior autofagia.
Creio que tenha ficado insustentável o ciclo, tendo vindo a estourar a "bolha" - no caso, relacionado aos imóveis e créditos podres americanos - onde instituições bancárias, com alto crédito virtual, concediam dinheiro real à pessoas sem a mínima capacidade de gerar renda para devolver [com juros] esse crédito concedido. O virtual e o real deixaram de se entender, causando a crise.
É apenas uma visão remota das causas da crise, mas que vejo presente no diário de empresários de muitos ramos.